O Samba


Adoniran Barbosa

(1910-1982)

Este ano será comemorado o centenário de Adorinan Barbosa, um dos mais significativos compositores da música popular brasileira. Filho de imigrantes italianos retratava em suas canções o cotidiano do povo paulistano, gente humilde, batalhadora e sofrida, que tentava sobreviver nessa metrópole – São Paulo.

João Rufinato, nascera oficialmente em 06 de julho de 1912, contudo, sua certidão foi modificada para que ele pudesse trabalhar ainda menino, sendo que a idade mínima para tal era de doze anos. Por isso, em muitos artigos a respeito de sua vida, datam seu nascimento em 1910.

Ele achava que este não era um nome apropriado para um cantor de samba. Então decidiu mudar. Emprestou “Adoniran” de um amigo, e em homenagem ao sambista Luiz Barbosa, adotou seu sobrenome. Assim surge ADORINAN BARBOSA, um dos compositores mais expressivos do país.

Quando jovem fez de tudo um pouco para ajudar a família, de entregador de marmita a encanador, serralheiro, torneiro mecânico, pintor e garçom. Aos 22 anos veio para São Paulo em busca de trabalho. E lá fizera suas primeiras composições. Participou de um programa de calouros, na antiga rádio “Cruzeiro do Sul”, e após alguns gongos, é aprovado com o samba “Filosofia”, de Noel Rosa.

Em 1933, ele ganhou um contrato, passando  a apresentar um programa de semanal com duração de quinze minutos, e com alcance regional. Em 1934, compõe com  J. Aimberê a sua primeira marchinha “Dona Boa”, vencedora de um concurso carnavalesco organizado pela Prefeitura de SP. Ficou na rede Cruzeiro do Sul até 1940, e no ano seguinte, transferiu-se para Record, a convite de Otávio Gabus Mendes.

Ali, tem início sua carreira de ator participando da série “Serões Domingueiros”. Oportunidade que lhe possibilitou criar vários personagens cômicos com características e linguagem bem peculiares, pertencentes ao imaginário popular. Como o malandro Zé Cunversa ou o galã de cinema francês, Jean Rubinet.

O fato de escrever de maneira descompromissada, sem o uso correto da grafia, virou sua marca registrada, aproximando-se cada vez mais do povo. Ele recebera diversas críticas, contudo, não dava ouvidos a elas, e dizia que só fazia samba pra povo, por isso os erros de português, pois é assim que o povo fala; e achava também, que o samba ficava mais bonito de se cantar.

Em meados dos anos 40, começa a atuar no cinema. Seu primeiro filme foi “PIF-PAF”, seguido por “Caídosdo Céu” (ambos de Ademar Gonzaga.) e “O Cangaceiro” (de Lima Barreto). Em 1955, conheceu Oswaldo Molles criador do programa “História das Malocas”, onde representava o personagem Charutinho. Esta parceria durou cerca de 26 anos.

Todavia, o que realmente impulsionou a carreira de Adoniran foi a parceria com o grupo Demônios da Garoa, os quais foram premiados no carnaval de SP com o samba “Malvina”, em 1951. E no ano seguinte, obtiveram nova vitória, só que agora com uma composição de Adoniran e Oswaldo Molles, intitulado “Joga a chave”.

Deste modo, suas canções tornaram-se conhecidas em todo Brasil na voz dos Demônios da Garoa. “Saudosa Maloca, Trem das Onze e Samba do Arnesto” são uma das canções mais famosas do compositor. Gravou seu primeiro disco só em 1974, seguido por outro em 1975 e, o último 1980 com várias participações dentre elas Djavan, Elis Regina, Clara Nunes e grupo Talismã.

Adoniran Barbosa obteve m reconhecimento tardio, no final dos anos 70. Morreu aos 72 anos e, costumava perguntar aos jornalistas que pretendiam entrevistá-lo: “por que vocês não vieram me procurar 20 anos atrás?”. Passara os últimos dias de sua vida triste, tentando entender o que aconteceu com a cidade de SP: “Até a década de 60, São Paulo ainda existia, depois procurei, mas não achei São Paulo. O Brás, cadê o Brás? E o Bexiga, cadê? Mandaram-me procurar a Sé. Não achei. Só vejo carros e cimento armado.” (Joyce Adriano e Edilson Mateus)


Cartola

               Angenor de Oliveira, quarto filho de Sebastião Joaquim de Oliveira e Aida Gomes, nascera a 11 de Outubro de 1908, no bairro do Catete, centro do Rio de Janeiro.
               Por questões financeiras, aos onze anos mudou-se para o morro da Mangueira com toda a família, todavia, para ser mais precisa, chegaram no Buraco Quente.
               De origem humilde, Angenor de Oliveira, teve que trabalhar desde cedo. Era franzino, porém bastante astuto e,  recebera o apelido de “Cartola” graças ao chapéu-coco que usava para não sujar os cabelos de cimento.
               Após ser expulso de casa, passou a gozar – plenamente – da vida de boêmio, contudo, adoeceu e parou de trabalhar. Certo dia recebera a visita de uma vizinha, Deolinda, com quem viria a ser casar.
               Cartola ficou conhecido no morro como sambista e compositor. Lá tornou-se amigo de Carlos Cachaça, e juntamente com outras pessoas formaram uma turma de arruaceiros; pulavam o carnaval no Bloco dos Arengueiros. Em 28 de abril de 1928, fundaram a Estação Primeira de Mangueira.
               A muitos anos, o nome Mangueira está associado as cores verde e rosa. Pois é, quem as escolheu foi nosso mestre Cartola.  Ele teve inúmeras canções gravadas por diversos intérpretes, como Carmen Miranda, Noel Rosa, Francisco Alves, Sílvio Caldas, dentre outros.
              Em 1940, apesar do sucesso, afastou-se do meio artístico, entretanto, fora procurado por Heitor Villa-Lobos para fazer uma gravação para o maestro Leopold Stokowski, que realizou uma pesquisa sobre ritmos nativos.  No mesmo ano, Cartola mudou-se para a Baixada Fluminense; sua situação melhorou após conhecer Eusébia Silva do Nascimento, a famosa Dona Zica. Passaram a viver juntos em 1952, mas só oficializaram a união em 1964.
              Angenor teve diversas profissões, pedreiro, pintor, lavador de carros, e certa vez, trabalhando em Ipanema, foi (re) encontrado pelo escritor Stanislaw Ponte Preta, e fez com que Cartola se apresentasse em algumas  rádios e participou também, matérias para jornais e revistas.
              Na década de 60, Cartola tornou-se zelador da Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro; lá aconteciam rodas de samba, alimentadas  pela sopa da D. Zica, exímia cozinheira. Todavia, o sucesso foi tamanho que o casal abriu o seu próprio estabelecimento: uma casa de samba e o restaurante “ZICARTOLA”, no centro do Rio, na Rua Carioca. Este novo espaço para a celebração do samba durou apenas 20 meses, contudo, foi o suficiente para impactar a vida cultural da cidade, ou até mesmo do país. Os shows rolavam nas noites de quarta e sexta- feiras, e as apresentações dividiam-se em dois momentos: primeiro tocavam somente os bons,  os bambas que era dirigidos musicalmente por Zé Kéti. E no segundo ato, brilhavam Cartola e seu violão.
              O que pouco sabem é que Cartola era um ótimo sambista, porém péssimo contador: “pratos e sambas não seriam o bastante para compensar os prejuízos causados pelos muitos amigos que chegavam, ouviam música, comiam, bebiam e penduravam as contas para nunca mais (sem falar nos que andaram metendo a mão na contabilidade de Cartola, grande artista, péssimo negociante). Mas o restaurante seria, durante esse tempo, um verdadeiro templo”.(LIBERAL, 09).
              Apesar de seu inquestionável talento, Angenor de Oliveira, gravou seu primeiro disco solo em 1974, por intermédio de Marcus Pereira – dono de  uma gravadora independente. E dois anos depois, a mesma produtora lança o LP com a sua mais célebre música: “As Rosas não Falam“, a qual foi trilha de uma novela da Rede Globo.
            Sendo assim, Cartola tornou-se conhecido pelo grande público e participou de vários projetos musicais, como o de Pixinguinha. Voltou a desfilar pela Mangueira após vinte e oito anos. Recebeu uma homenagem na quadra da “Verde e Rosa”, em comemoração aos seus 70 anos, entretanto, dois anos depois, veio a falecer devido a complicações de um câncer na tireoide.  E em 2006, lançaram o documentário “CARTOLA”, dirigido por Lívio Ferreira e Hilton Lacerda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-choro.0309/0399.html
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u433.jhtm
http://www.cartola.org.br/cartola.html
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/artes/cartola/